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O que a ciência já descobriu sobre o vírus zika.

  • Lucas Agrela
  • 19 de fev. de 2016
  • 4 min de leitura

Descoberto em 1947, o vírus zika foi nomeado a partir da floresta na qual foi descoberto, a Floresta de Zika, em Uganda. No entanto, nessa época, ele não atingia o ser humano, mas, sim, os macacos na região.

Até 2007, somente 14 casos de humanos com a doença haviam sido constatados na África e na Ásia. A maioria das pessoas infectadas não apresentavam sequer sintomas que indicassem o contagio.

Mas esse cenário mudou. Em maio de 2015, a Organização de Saúde Panamericana divulgou um alerta sobre os primeiros casos de transmissão do vírus no Brasil. O zika é uma epidemia no território nacional, sendo motivo de preocupação para a Organização Mundial da Saúde e alvo de campanhas doMinistério da Saúde, que buscam reduzir a quantidade dos mosquitos que transmitem a doença, principalmente o Aedes aegypti – que também pode transmitir a dengue e o chikungunya.

Com isso, diversos pesquisadores dedicaram seus esforços para descobrir mais sobre o zika. Confira, a seguir, o que a ciência já sabe sobre esse vírus.

O Ministério da Saúde divulgou nota no dia (13) na qual diz que só usa larvicidas recomendados pela Organização Mundial da Saúde na eliminação de focos do mosquito Aedes aegypti, vetor da dengue, da febre chikungunya e do vírus Zika. A declaração veio depois que o Rio Grande do Sul suspendeu o uso do produtopyriproxyfen por suspeita de que ele provoca microcefalia.

A pasta ressalta que alguns locais onde o Pyriproxyfen não é usado também registraram casos de microcefalia. “Ao contrário da relação entre o vírus Zika e a microcefalia, que já teve sua confirmação atestada em exames que apontaram a presença do vírus em amostras de sangue, tecidos e no líquido amniótico, a associação entre o uso de Pyriproxifen e a microcefalia não possui nenhum embasamento cientifico”, disse a nota.

A pasta também ressalta que o Rio Grande do Sul tem autonomia para utilizar o produto adquirido e distribuído pelo Ministério da Saúde ou desenvolver estratégias alternativas.

Boletim divulgado ontem pelo Ministério da Saúde mostra que 462 bebês nasceram com microcefalia. Em 41 casos foi confirmada com exames laboratoriais a relação entre a malformação e o vírus Zika. A pasta ainda investiga 3.852 notificações de malformações em recém-nascidos.

Em 2015 mais de 1,6 milhão de pessoas tiveram dengue e mais de 800 morreram em decorrência deste vírus.

O vírus zika pode estar associado a outras alterações congênitas, além da microcefalia.

É o que aponta mais um estudo feito por pesquisadores da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) e do Instituto dePesquisa Professor Joaquim Amorim Neto, Ipesq, na Paraíba.

Em coletiva de imprensa no campus do Fundão da UFRJ, na zona norte, os pesquisadores da instituição, Amilcar Tanuri e Rodrigo Brindeiro, explicaram que ao analisar o líquido amniótico e tecidos cerebrais de bebês, foi encontrada uma série de outros problemas no cérebro e em outros órgãos do bebê, incluindo lesões oculares.

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Os bebês foram acompanhados em Campina Grande (PA). As amostras analisadas em laboratórios da UFRJ e da Fiocruz.

Dos oito fetos acompanhados durante a gestação, dois tinham o vírus no tecido cerebral e acabaram morrendo 48h depois do parto. Um deles não tinha microcefalia, mas o tecido cerebral estava severamente comprometido.

Todos os bebês que sobreviveram tinham microcefalia e em dois deles foram encontrados zika. O sangue dos outros quatro ainda serão analisados.

"A novidade da análise é que a infecção do vírus zika no cérebro pode ter uma gama de alterações, desde implicações simples a alterações graves, como as lesões destrutivas que causaram a morte dos dois bebês", disse Tanuri, que é especialista em genética de vírus.

"Estamos tentando sistematizar uma síndrome congênita do zika e tentar ajudar os colegas a identificá-la em outros casos", afirmou.

Eles ressaltaram que os números de casos são muito pequenos e que há muito ainda a ser estudado, para que seja possível garantir causa e efeito entre zika e microcefalia.

"Na história da medicina, todas essas doenças congênitas demoraram um longo tempo para serem desvendadas", comentou Tanuri. Ele disse que, até o momento, a estimativa é que haja de dois a cinco bebês com microcelafalia a cada 100 grávidas infectadas com zika.

Para os pesquisadores, o estudo é importante para lançar luz sobre o problema para pesquisadores no Brasil e pelo mundo. "Precisamos formar um padrão. O próximo passo será estudar como o zika agride o tecido cerebral."

Outra descoberta foi que todos os vírus que circulam na América Latina são idênticos, com base no sequenciamento do genoma do zika a partir do líquido amniótico de um feto.

"É mais uma pecinha que se encaixa nesse quebra-cabeça, para indentificarmos ou não a causalidade do vírus no cérebro", disse Brindeiro.

Um fato que surpreendeu os pesquisadores foi a constatação da permanência do vírus durante toda a gestação nos dois bebês que acabaram morrendo após o parto.

"O vírus permaneceu no bebê, agredindo o sistema nervoso da criança. Isso foi bem impressionante", relatou Tanuri.

Os pesquisadores lamentaram a falta de recursos para tocar os estudos."Estamos fazendo um sacrifício sobre-humano, as verbas estão cada vez mais curtas e essa epidemia bateu no Brasil em uma hora muito ruim", destacou o virologista.


 
 
 

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