No Divã com Selton Melo.
- Rosa Carvalho
- 3 de out. de 2014
- 7 min de leitura

Este ator de 41 anos pode ser considerado um artista completo. Com talentos múltiplos, Selton embarca em mais uma nova temporada da série Sessão de terapia, do GNT.
Apaixonado pelo palco desde cedo, Selton Mello é reconhecido não só pelo seu trabalho como ator, mas também como diretor, produtor, escritor, apresentador e músico. Na TV com a série Sessão de terapia, que estreia nova temporada dia 4 de agosto no canal GNT, Selton dirige feras como Letícia Sabatella, Camila Pitanga, Fernando Eiras e Selma Egrei, e prova que é um camaleão das artes. Este mineiro discreto – odeia falar da vida pessoal –, megafocado e disciplinado gosta mesmo é de trabalhar muito e se reinventar. Ama criar, ousar, produzir.
Suas atenções agora estão voltadas para um “espaço sagrado”, a sala do terapeuta Theo (Zécarlos Machado). Esta nova leva de episódios traz roteiro inédito e brasileiro, independente da série original israelense Be’Tipul. Selton acredita que seu maior desafio é manter a voltagem emocional que estabeleceu com os atores desde o início. “Trata-se de um trabalho árduo e meticuloso, e por isso tão prazeroso”.
Nascido em Passos, Selton mudou-se para São Paulo ainda bebê com a família e, aos sete anos, estreou cantando em um programa infantil de calouros. Em seguida, fez a novela Dona santa na Rede Bandeirantes e, desde então, não parou mais. Mesmo com a experiência surpreendente que adquiriu ao longo dos anos, ele confessa manter o olhar lúdico sobre a profissão. “Meu olhar sobre a arte permanece o do menino vidrado naquele mundo dos sonhos”, diz o ator.
No seu currículo, cintilam novelas globais como Sinhá moça, Tropicaliente e A próxima vítima, e minisséries como A invenção do Brasil eOs maias. Desde 2000, quando fez A força de um desejo, a participação do ator na TV tem diminuído. Cada vez mais atraído pelo cinema, Selton encarou personagens marcantes como o Chicó de O auto da compadecida, filme baseado na obra do saudoso Ariano Suassuna, o Leléu de Lisbela e o prisioneiro, Lourenço de O cheiro do ralo, e Jean Charles de Menezes do filme Jean Charles, entre outros.
Mas foi no longa O palhaço, de 2011, dirigido, coescrito e protagonizado por ele, que Selton mostrou sua essência. O filme surgiu de uma crise que ele viveu em 2009. Na pele de Benjamin, um palhaço que sai em busca de sua identidade, Selton fez as pazes com sua vocação.O palhaço foi escolhido entre quinze longas brasileiros para disputar uma vaga no Oscar. “A aceitação calorosa que o filme teve me deu coragem para seguir adiante”, conta o inquieto ator, envolvido em novos projetos: Trash está previsto para estrear no Brasil no segundo semestre de 2014 e Soundtrack será filmado em 2015. A seguir, confira nossa conversa com Selton Mello.
Como surgiu o seu interesse pelo meio artístico?
Foi um desejo meu. Aos sete anos pedi para minha mãe para cantar na TV, eu era um vidrado em televisão, amava os programas de humor. Ela me levou em programas de calouros e daí surgiram oportunidades para comerciais, dublagens e novelas. O interessante é que mantenho um olhar lúdico sobre minha profissão, meu olhar sobre a arte permanece o do menino vidrado naquele mundo dos sonhos.
Como um artista plural, você estuda bastante? Como se aperfeiçoa em todas essas áreas?
Estudo bastante, sim. Nunca estou satisfeito e jamais acho que já sei fazer o que faço. Sou inquieto, curioso e sempre querendo fazer melhor o que escolhi pra minha vida.

Você costuma trabalhar em papéis e tramas bastante distintos. O que te atrai em uma produção?
Não existe um comportamento específico na hora de decidir o que fazer. O que me atrai em um projeto é fruto de uma série de coisas, como um diretor que quero trabalhar, um roteiro que me encantou, um personagem que me tire do chão ou uma narrativa que não domino e que tenho vontade de experimentar.
Desde 2000, após Força de um desejo, você não faz mais novelas na Globo, apenas minisséries. Por quê?
Naquele momento de minha vida senti a necessidade de uma mudança radical para poder me aventurar em linguagens que me estimulassem. Foi algo ousado e que poderia não ter dado certo, mas o desejo de me expressar de uma forma mais contundente foi maior que tudo e, no fim das contas, valeu a pena.
Em O palhaço, você faz uma interpretação e uma direção minimalistas. Acredita que menos é mais?
Muitas vezes sim. Claro que tem trabalhos em que isso não é possível por conta da proposta do diretor. No humor bufão-clownesco de O auto da compadecida e na virulência trágica de Lavoura arcaica eu estava a serviço de narrativas que exigiam de mim uma expressão mais larga, grandiloquente, e foram trabalhos que me inspiraram bastante. Mas eu tendo a achar que com menos você pode ser mais forte ainda. Gosto da ideia de que a arte só se completa com o olhar do outro, por isso sempre tento deixar espaço para que o público interaja e complete o raciocínio. Aprecio a contenção do João Gilberto e a grandeza que emana de sua simplicidade.

O que O palhaço significou na sua vida?
Esse trabalho foi luminoso e significou muita coisa em minha vida. Que estou no caminho certo, que devo seguir meus instintos, minha sensibilidade. Consegui realizar em O palhaço uma coisa que todos julgavam impossível: unificar o cinema comercial com o cinema de invenção, o popular e o refinado. Foi um filme delicado, com espaço para a imaginação, uma obra sensível e ao mesmo tempo com forte poder de comunicação. A aceitação calorosa que o filme teve me deu coragem para seguir adiante.
Como aconteceu o convite para fazer o filme Trash, e o que achou do elogio do diretor, Stephen Daldry, que disse estar trabalhando com a “realeza brasileira”, referindo-se a você e Wagner Moura?
Trabalhar com Stephen Daldry foi um sonho. O diretor dos belíssimos As horas e Billy Elliot é um dos maiores cineastas em atividade. Sua condução atenta e inspirada me motivou bastante. Diria que Trash foi um novo sopro de vida na minha porção ator. Saí modificado da experiência com um diretor do calibre do Daldry.
Você é adepto da terapia. As suas sessões inspiram de alguma forma o roteiro da minissérie?
Não conscientemente, talvez de uma forma sutil. Mas tenho grande admiração pelo profissional da psicanálise. O terapeuta tem uma profissão muito nobre, ele ajuda o paciente a encontrar seus caminhos e ficar em paz com suas decisões. Poder se conhecer cada vez mais e melhor não tem contraindicação. Ter consciência de sua força e suas fragilidades faz de você um pessoa melhor, e te deixa conectado com tudo ao seu redor de uma maneira mais plena.

A terceira temporada de Sessão de terapia conta com um texto original, criado aqui no Brasil. Como você analisa a sua evolução desde a primeira temporada para essa?
Dirigi todos os episódios desde o começo, foram 115 capítulos. Um trabalho concentrado e gigantesco que me proporcionou um crescimento enorme atrás das câmeras. Ali, aprendi também um bocado sobre meu ofício de ator vendo todos aqueles colegas tão diferentes. Esse trabalho me proporciona um prazer enorme por poder fazer um programa que conta com a imaginação do espectador, uma linguagem sensível e sutil, coisa rara na TV. Trato a sala de Theo como um espaço sagrado, aquela sala pra mim é o mundo.
O que o público pode esperar para essa terceira temporada da série?
Personagens cativantes e uma narrativa delicada, com espaço para a imaginação do espectador. Sessão de terapia é entretenimento e conhecimento, um trabalho demasiadamente humano.
Como está o andamento do projeto do filme Soundtrack? Já tem prazo para as gravações?
Eu e Seu Jorge protagonizamos e também somos coprodutores deste projeto que amamos. Soundtrack édirigido pela dupla 300ml, com distribuição da Europa Filmes. Vamos filmar na Islândia no início de 2015. Meu personagem é um artista plástico que parte para um período de pesquisa na neve e, a partir daí, se depara com cientistas e com questões que abalam suas certezas sobre a arte e sobre a vida.
Quais são seus planos para os próximos anos?
Tenho um projeto com um diretor que admiro muito, José Luiz Villamarim, será seu primeiro longa. Ano que vem vou rodar meu terceiro filme como diretor, baseado no livro Um pai de cinema, de Antonio Skármeta, um dos maiores escritores chilenos, que teve duas de suas obras transpostas para o cinema: O carteiro e o poeta, e mais recentemente o filme No. Ao longo de 2015, vou atuar em um filme na Argentina. Além disso, ando pensando se Sessão de terapia tem fôlego para uma 4ª temporada. E nas horas vagas eu trabalho também (risos).

O que é importante para você? O que te inspira?
Importante pra mim é conviver com quem realmente gosta de você. É ter caráter e conviver com quem também tenha. Importante é seguir seus instintos e ir em frente e não fazer o que acham que você deve ou não fazer. O que me inspira? Arte. Cada momento da criação é uma grande aventura emocional e isso me faz bem, tudo em volta fica melhor.
Um preview para você começar a terceira temporada por dentro dos novos pacientes
Segunda-feira: Bianca (Letícia Sabatella) é uma professora de literatura que busca terapia para salvar seu casamento conturbado.
Terça-feira: Diego Duarte (Ravel Andrade) é um estudante de classe alta que bebe demais e acaba se tornando alcoólatra.
Quarta-feira: Felipe Alcântara (Rafael Lozano) é um administrador bem-sucedido que enfrenta o dilema de casar com uma mulher ou assumir sua homossexualidade.
Quinta-feira: Milena Dantas (Paula Possani) é a viúva do atirador Breno Dantas da primeira temporada da série. Sua personagem procura terapia para vencer o TOC.
Sexta-feira: Theo (Zécarlos Machado) passa a frequentar um grupo de supervisão de psicólogos. Nele, participam Evandro (Fernando Eiras), Guilherme Damasceno (Celso Frateschi) e Rita Costa (Camila Pitanga). Durante esse processo, Theo sentirá falta de Dora (Selma Egrei) e voltará a fazer suas sessões com ela.
Por Rafaella Finci Foto Mark Leibowitz
29 horas
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